Energia solar e sustentabilidade: geração impacta positivamente na economia e no meio ambiente

Instituição financeira possui linha de crédito específica e entidade presta consultoria, enquanto universidade já instalou miniusina própria e desenvolve pesquisa de extensão em energias renováveis

Por Lucas França e Thayanne Magalhães / Revisão: Bruno Martins | Redação

Por que a energia solar é sustentável? Porque sua matéria prima é originada da natureza, ou seja, a captação de energia elétrica é feita pela luz do sol. Por isso, os recursos naturais podem ser usados de forma abundante e renovável e de uma forma que não afeta o meio ambiente. Ela se destaca atualmente como fonte sustentável em relação às outras fontes de energia tradicionais.

Agora, imagina em Alagoas, um estado que praticamente tem sol o ano inteiro, a rentabilidade para quem tem uma miniusina solar, para quem coloca em sua empresa e até mesmo em sua residência. Se pensou economia é isso mesmo. E economia sustentável, todos saem ganhando, pois um dos principais benefícios da energia solar é a diminuição significativa da emissão de gases de efeito estufa, o que ajuda a amenizar as mudanças climáticas.

E é pensando nisso que, em Alagoas, empresários estão de olho nesse setor e sendo apoiados por instituições financeiras, como o Banco do Nordeste (BNB), entidades como o Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] e até com base em estudos e pesquisas de instituições de ensino como a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que inaugurou uma usina solar em novembro de 2023.

Para a empresária Jussara Cavalcante, do Hotel Zuza Slim Suítes (@zuzaslimsuites), que já tem em seu DNA o empreendedorismo herdado de seu pai, a instalação da miniusina com 74 placas vai gerar uma economia significativa. No ramo de turismo e hotelaria desde 2018, Cavalcante conta que tudo foi possível graças à parceria com o BNB e com o Sebrae.

“O financiamento junto ao Banco do Nordeste me proporcionou a realização de sonhos. Primeiramente para construção desse empreendimento. Precisei e tive o apoio na finalização de tudo isso. Foi com essa parceria que meus sonhos começaram a ser construídos, me permitiu ganhar dinheiro e fazer com que outras pessoas ganhem também com empregos diretos e indiretos. E eu posso retornar isso para a instituição de uma maneira equilibrada. É um parceiro na construção do empreendedorismo. Porque na época que fiz o primeiro investimento, se eu tirasse R$ 200 mil de investimento em um banco tradicional pagaria R$ 400 mil, sem carência. Lá ficou em média para pagar R$ 290 mil, acho que em 72 parcelas, então vale a pena, né? E agora, voltei à instituição e financiei para a usina solar em torno de R$ 170 mil. E devo retornar ao banco acredito que em torno de R$ 230 mil e isso sem carência em 42 parcelas”, expôs Jussara.

Empresária Jussara Cavalcante (Foto: Edilson Omena)

A empresária destaca as vantagens. “É bastante vantajoso porque vou ter o sistema e posteriormente eu não vou pagar mais o financiamento do sistema, então vou pagar apenas a taxa do sol para a Equatorial. Se eu tivesse conseguido a isenção antes, eu não ia pagar nem isso. O banco tinha me proporcionado isso, mas a Equatorial que não autorizou no período correto. Aí tive que mudar a usina de endereço algumas vezes e o processo recomeçava. Nisso, a taxa do sol terá que ser paga devido a uma alteração legislativa na Câmara, mas que não foi aprovada ainda no Senado. Foi quando mudou de presidente”.

Cavalcante lembra que fez um estudo inicial preliminar para saber a viabilidade e a porcentagem de economia que ela iria gerar. “Teve sim, um estudo superficial, nada muito profundo. Basicamente pela empresa que vende. Apontou-me que se eu gasto 5.000 kw [quilowatts] por mês, então com a implantação da energia solar, vou ter uma economia de uns R$ 3.500 por mês. Ou seja, com esse valor de economia já se paga a parcela do financiamento, e futuramente quando o financiamento tiver sido pago, isso já volta de bônus para a empresa, então, já tem um retorno nesse momento do investimento. Por isso, o Banco do Nordeste é um parceiro que eu sou muito grata. Eu virei cliente e os juros são competitivos, dão um prazo de carência”, disse a empresária, comemorando a aquisição com a usina que vai ficar na cidade de Cacimbinhas e vai gerar energia para o hotel que fica no bairro de Jatiúca, em Maceió.

De acordo com Jussara, além da economia, a sustentabilidade é um fator determinante. “Isso é muito importante, pois os clientes geralmente analisam as empresas que dão retorno ao meio ambiente, as que são sustentáveis, se têm o selo, se a empresa se preocupa com as questões ambientais. Acabam com maior pontuação nas buscas em sites, redes sociais etc.”

CONSULTORIA COM O SEBRAE

Jussara começou o negócio com a “cara e a coragem” como costuma dizer, mas depois do negócio aberto, ela buscou uma consultoria com o Sebrae Alagoas para melhorar seu rendimento e fazer o negócio continuar dando certo. “Fiz uma consultoria em gestão. Queria saber como precificar e saber o custo fixo/variável, assim como o que entra de receita e despesa, além do momento de baixar e aumentar preço. E isso me ajudou bastante, me proporcionou chegar até aqui”, finalizou.

'Essa iniciativa não apenas fortalece as empresas individualmente, mas também promove um impacto positivo no meio ambiente e na sociedade, construindo um futuro próspero para todos', afirmou Agda França, do Sebrae.

Miniusina de energia solar da Ufal (Foto: Edilson Omena)


Engenheira afirma que placas solares podem reduzir a conta de luz em até 90%

O portal Tribuna Hoje conversou com a engenheira civil e proprietária de uma empresa de placas solares, Andrea Leopoldino. Além de comentar sobre os desafios de ser uma mulher em um mercado predominantemente masculino, ela explica como a energia solar pode levar à redução de até 90% da conta de luz das empresas e residências.

“A energia solar possui diversas vantagens: ambientalmente por ser uma fonte de energia renovável, não poluir, além de ter vida útil de aproximadamente 25 anos. Economicamente por reduzir a conta de luz em 90%, trazendo o retorno do investimento em 5 anos e possuir necessidade mínima de manutenção. Então é uma energia sustentável para a empresa, para comércio, residência e indústria. O valor economizado pode ser investido na sua casa ou no seu negócio”, explica a engenheira.

Andrea explica que a instalação da usina solar é feita de acordo com o consumo do cliente e que, a partir de então, quem possui placas de energia solar não será mais dependente da companhia de energia elétrica. “Também é possível instalar um aquecedor solar somente no chuveiro elétrico, por exemplo, para quem opta por usar energia solar para economizar com os eletrodomésticos que consomem mais energia. Porém, se for para usar outros equipamentos da casa, o ideal é instalar um kit solar, que não tem um valor tão alto quanto as pessoas imaginam, ainda mais levando em consideração a economia que terá na conta de luz”, disse Andrea.

A engenheira lembra que decidiu entrar nesse segmento depois que um amigo a apresentou ao mercado da energia solar. “Quando terminei minha graduação de Engenharia Civil, não tive muitas oportunidades no mercado de trabalho. Consegui um estágio, mas acabei ficando desempregada e precisava buscar algo para não ficar sem renda. Foi quando meu amigo me apresentou a energia solar e eu fui estudar sobre o assunto. Um ano depois decidi abrir minha empresa e pude contar com o Sebrae Delas, onde tive a oportunidade de participar de várias capacitações”, lembra a engenheira.

Andrea conta ainda que passar pelo programa Sebrae Delas fez ela quebrar crenças limitantes e abriu sua mente para o desenvolvimento da empresa. “O Sebrae foi uma peça fundamental para a gestão da minha empresa. Tive que enfrentar o tabu por ser um mercado predominantemente masculino e em muitas situações, quando estava negociando, sempre perguntam onde está o técnico, se referindo no masculino. E eu informo que eu mesma faço a visita técnica, que sou engenheira e tenho capacitação para realizar o meu trabalho. E ao longo desses cinco anos, desde que montei minha empresa, venho quebrando barreiras”, lembra a engenheira e empresária.

“Se eu pudesse falar para outras mulheres que querem investir nesse segmento, que ainda têm receio do tabu sobre ser uma área masculina, eu diria para quebrarem suas crenças limitantes, que vá em frente, se capacite e estude para dominar o ramo. Mostre que é capaz”, finalizou.

Ao final da entrevista, Andrea levou a equipe de reportagem até uma igreja da Jatiúca, onde ela foi responsável pela instalação de placas de energia solar. Veja no vídeo em destaque.

Igreja na Jatiúca instalou as placas de energia solar (Foto: Edilson Omena)


Em Alagoas, projeto institui a política estadual de incentivo ao uso da energia solar

No dia 30 de abril de 2024, em uma sessão ordinária na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE), foram apreciados 20 itens na ordem do dia e um deles foi um projeto de lei ordinária nº 813/2022, que institui a política estadual de incentivo ao uso da energia solar, discutido em 1º turno.

De acordo com o texto, de autoria do deputado Inácio Loiola (MDB), os objetivos do projeto são: aumentar a participação da energia solar na matriz energética do estado, contribuir para a melhoria das condições de vida de famílias de baixa renda e estimular o uso de energia fotovoltaica em áreas urbanas e rurais.

“Ao nos deparamos com a atual crise energética, sentimos a necessidade de implementar mecanismos alternativos que possam garantir o abastecimento de água nas cidades, a fim de evitar o colapso do sistema hídrico e os apagões”, justificou o parlamentar, afirmando que o aproveitamento e o desenvolvimento da energia solar no estado de Alagoas podem abrir um potencial socioeconômico imensurável para a região. “O governo do estado recentemente já deu um grande passo ao incentivar que os geradores de energia elétrica de Alagoas possam ter isenção do ICMS nos créditos de energia gerados por unidades consumidoras que se enquadram nas categorias de mini e micro geradores de energia”, falou Inácio Loiola.

Deputado estadual Inácio Loiola (Foto: Ascom ALE)

Loiola disse que assegura a participação dos empreendimentos imobiliários com a sociedade civil.

SUSTENTABILIDADE SOCIAL

O impacto na sustentabilidade social da energia solar é bastante positivo, em muitas regiões onde as pessoas não têm acesso à eletricidade adequada, por exemplo, a energia solar pode ajudar neste sentido, já que a instalação de placas solares ajuda a solucionar este problema.

Ainda é possível obter energia por meio do sistema off grid, no qual é independente da rede elétrica, usando baterias e painéis solares, podendo suprir necessidade em locais remotos, onde não há energia elétrica convencional. Outro destaque é que a energia solar também gera empregos verdes, impulsionando assim o crescimento econômico e promovendo a equidade social. As oportunidades de emprego vão da instalação e manutenção do sistema de energia solar até o desenvolvimento de tecnologias e pesquisas, oferecendo vagas de emprego em várias áreas.

Como funciona a taxa sobre energia solar?

  • O marco legal da Micro e Minigeração Distribuída, a chamada Geração Distribuída, também conhecida como “taxação do sol”, entrou em vigência em 7 de janeiro de 2023. Contudo, o Projeto de Lei que o instituiu (5.829/2019) foi aprovado em 2021 no Senado e na Câmara dos Deputados, sendo sancionado em janeiro de 2022 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, com veto a dois dispositivos. Os vetos foram derrubados em 14 de julho do mesmo ano pelo Congresso Nacional e promulgados por Bolsonaro no mês seguinte.
  • A legislação aprovada permite ao consumidor produzir a própria energia a partir de fontes renováveis, dentre elas, a solar fotovoltaica. Ela ficou conhecida como “taxação do sol” porque estabelece, também, que os produtores de energia por meio de painéis solares conectados à rede de distribuição sejam cobrados pelo custo dessa distribuição à rede elétrica – conhecido como Fio B. Na prática, é a cobrança do serviço de transmissão de energia até as residências.

Sebrae impulsiona pequenos negócios na adoção de energia solar para desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável tornou-se uma prioridade para negócios de sucesso, incorporando aspectos econômicos, ambientais e sociais. Nesse contexto, o Sebrae assume o papel de impulsionador, visando transformar pequenas empresas em protagonistas desse cenário no Brasil.

Uma das estratégias-chave para alcançar esse objetivo é a adoção de energias renováveis, com destaque para a energia solar, principalmente em um estado como Alagoas, onde o sol predomina durante a maioria do ano. Além de contribuir para a redução de custos operacionais, a energia solar oferece autonomia energética, reduz a dependência de fontes tradicionais e eleva a competitividade das empresas.

A analista técnica da unidade de competitividade setorial - núcleo de indústria, Agda França, explica que o Sebrae atua como facilitador, fornecendo suporte técnico e orientação para que pequenos negócios implementem sistemas de energia solar de forma eficiente e sustentável. “Essa iniciativa não apenas fortalece as empresas individualmente, mas também promove um impacto positivo no meio ambiente e na sociedade, construindo um futuro próspero para todos", conta.

Ela conta ainda que, por meio de cursos, consultorias e eventos, o Sebrae auxilia na formação e no desenvolvimento de negócios de energia solar, contribuindo para o crescimento econômico e sustentável do estado e para negócios. “Buscamos incentivar que os pequenos negócios se tornem investidores e também práticas que possam não somente contribuir para a redução de custos e aumento da competitividade, mas também para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e indicadores de ASG [Ambiental, Social e Governança] nos aspectos ambientais”, explica Agda.

Analista técnica do Sebrae, Agda França (Foto: Julio Vasconcelos / Assessoria)

“Como por exemplo, temos no nosso portfólio a consultoria de Melhoria da Eficiência Energética e Fontes de Energia Alternativas, que é destinada a propiciar aos clientes otimização do uso de energia em sua empresa, com consequente melhoria do desempenho, redução de custos e minimização do impacto ambiental. Além disso, visa buscar focos de desperdícios nos diversos usos finais com a intenção de reduzi-los ou economizar energia nas instalações do cliente”, continua a analista técnica.

Segundo Agda, o resultado esperado junto ao empresário é que haja otimização do uso de energia nas empresas, melhoria no desempenho energético; redução de custos relacionados à energia; minimização do impacto ambiental; redução do consumo de energia por sistema analisado e no consumo energético global, melhoria da eficiência e desempenho de equipamentos e instalações elétricas; maior controle e monitoramento do consumo energético.

Conforme dados do Sebrae, o consumo de energia representa uma das maiores despesas para os pequenos empreendimentos, pois é indispensável para o funcionamento de qualquer tipo de negócio. Transitar para fontes de energia renovável não é apenas uma opção, mas sim uma necessidade imperativa para garantir a viabilidade ecológica e econômica, não apenas para os negócios, mas para toda a humanidade.

A natureza não espera permissão nem negociação. As consequências das crises ambientais e do aquecimento global não podem ser resolvidas apenas em laboratórios. O Sebrae assume a liderança na promoção da sustentabilidade, incorporando projetos que incentivam o uso de energias renováveis pelos pequenos empresários. Essa estratégia não é apenas crucial, mas também alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030, que incluem metas como Água Limpa e Saneamento, Energia Acessível e Limpa, Cidades e Comunidades Sustentáveis, e Consumo e Produção Responsáveis.

FNE Sol: Banco do Nordeste é parceiro de empresas sustentáveis

De acordo com o gerente do Banco do Nordeste, Victor Vitoretti, responsável pelo FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste) Sol no estado de Alagoas, a instituição financeira apoia a sustentabilidade através da linha de crédito de investimento do banco.

“Somos um banco que apoia a sustentabilidade. Através da linha de crédito de investimento do Banco do Nordeste, o cliente produz energia limpa e ainda reduz seus custos na conta de luz. Empresas, produtores rurais e pessoas físicas podem acessar o FNE Sol para aquisição do sistema de energia solar para consumo próprio ou destinado à locação. Nosso cliente tem a oportunidade de financiar até 100% do seu projeto, a depender do seu porte, localização e garantias”, comentou Vitoretti.

Segundo o gerente, para a pessoa física, o limite máximo de financiamento é de R$ 100.000,00. “Além de ser um crédito necessário e superimportante para a sua família, empresa ou atividade rural, conta com as melhores taxas de juros do mercado e prazos adequados à sua necessidade, inclusive com carência, para ter tranquilidade durante a implantação do projeto. Para se ter uma ideia, o prazo de financiamento para um projeto pessoa jurídica pode ser de até 12 anos”, ressaltou.

Gerente Victor Vitoretti, do BNB, é responsável pelo FNE Sol em Alagoas (Foto: Arquivo pessoal)

Os interessados podem realizar o cadastro para o FNE Sol de forma online, através do site oficial do BNB ou procurar uma agência de relacionamento para que seja feita uma análise de crédito.

“Desde a criação da linha de crédito, ano após ano, observamos uma evolução notável de operações pessoa física e jurídica para autoconsumo. Porém, em 2023, o que nos chamou mais atenção foi o boom de operações para implantação de usinas voltadas para a locação de sistemas. A Humphry, empresa de locação, identificou essa demanda de clientes que não conseguem fazer a implantação de um sistema de energia solar próprio, e decidiu procurar o Banco do Nordeste para financiar o seu projeto. Já o Hotel Zuza Slim Suítes, começou a perceber um aumento considerável do seu consumo de energia elétrica e decidiu que era hora de partir para a energia solar. Escolheu um prazo em que a parcela do financiamento ficaria ainda abaixo do que vinha pagando à concessionária de energia, e ao fim do seu financiamento, passará a pagar o mínimo de sua conta, e ainda ficará com o equipamento que tem uma alta durabilidade, chegando a mais de 20 anos”, lembrou o gerente.

Economista aponta razões para investir em energia solar no Nordeste

Uma das regiões que mais contribui para o desenvolvimento desta matriz energética é o Nordeste. De acordo com o economista Fábio Leão, em 2018 a região atingiu a marca de 675 megawatts (MW) com o fator de carga batendo 86% no horário que foi registrado esse índice, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS). Hoje, o Nordeste é o melhor local do país para se investir neste tipo de energia, por possuir altos índices de radiação solar.

“Por conta de a região estar próxima à linha do Equador, apresenta um clima tropical. Por esta razão, tem os maiores índices de radiação solar do país. Além disso, conta com bastante silício no solo, que é o material abundante na fabricação dos painéis solares”, explica.

Fábio Leão destaca ainda que a região faz parte do convênio de isenção do ICMS para energia solar, o que contribui para que comércios e residências possam aderir à geração desse tipo de energia. Isso gera, portanto, um aumento de adesões e contribui para a construção de uma economia mais sustentável, uma vez que a geração de energia solar utiliza uma fonte que é reabastecida naturalmente, o sol.

“O sistema de compensação foi criado pela Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]. Assim, a energia que é gerada e não é utilizada é colocada na rede da concessionária, como forma de empréstimo, e volta para o consumidor como forma de crédito para a energia que é consumida no horário que não há geração de energia solar. Vale lembrar que este tipo de compensação só pode ser utilizado para o sistema fotovoltaico on grid”, continuou o economista.

O gráfico abaixo mostra o consumo de energia por fonte em Alagoas do período de 2009 a 2018.

(Imagem: Reprodução)

Converter luz solar em energia é assunto de interesse nacional, visto o benefício social, econômico e ambiental que este tipo de energia possibilita. Além disso, o retorno do investimento é de curto prazo, tornando um diferencial competitivo em momentos de instabilidade econômica.

No mapa você observa onde estão os equipamentos instalados para energia fotovoltaica em Alagoas.

(Imagem: Reprodução)

VIDA ÚTIL

Os modelos atuais de painéis solares perdem entre 6% e 10% de eficiência depois de 10 anos. Depois de 25 anos, a eficiência já caiu cerca de 20%. Calcula-se que painéis de alta qualidade podem gerar energia com uma eficiência aceitável por um período de 30 a 40 anos.

Veja no gráfico abaixo a evolução do consumo de energia elétrica por tipo de ligação (MW/h).

(Imagem: Reprodução)


Pesquisas colaboraram para implantação de usina solar na Ufal

Foi inaugurada no dia 13 de novembro de 2023 a Miniusina Solar Fotovoltaica da Ufal, o equipamento está localizado ao lado do Fórum Universitário, na entrada do Campus A.C. Simões, em Maceió, com área de três mil metros quadrados. O espaço tem uma sala de aula e treinamento; eletrocentro, onde estão instalados os inversores; secretaria; sala de reuniões; almoxarifado; e a cobertura, destinada à instalação de estações meteorológicas.

O empreendimento, além de suprir parte da demanda energética da universidade, também servirá como espaço de ensino e como laboratório para a realização de pesquisas no âmbito dos cursos de graduação e de pós-graduação da instituição. Para o professor e pesquisador Márcio Cavalcante, coordenador do Projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&DI) que viabilizou a miniusina, a universidade deu um grande passo rumo à sustentabilidade. “É um passo para sustentabilidade e também na formação de profissionais qualificados na área de Energias Renováveis”.

Márcio Cavalcante ressaltou a importância educacional da usina. “A usina se destaca como uma importante infraestrutura para a formação de profissionais capacitados nas áreas de eficiência energética e geração distribuída fotovoltaica e contempla toda a esfera educacional. Aqui os estudantes podem visualizar projetos que antes conheciam apenas em teoria. É muito importante incentivar as pesquisas nesta área e o desenvolvimento de novos projetos”, enfatiza.

Professor Márcio Cavalcante na Miniusina da Ufal (Foto: Edilson Omena)

O equipamento é atualmente utilizado para o desenvolvimento de projetos ligados ao Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca), ao Instituto de Computação (IC) e ao Centro de Tecnologia (CTEC). “Com projeto inovador, a miniusina se destaca como uma importante infraestrutura para a formação de profissionais capacitados nas áreas de eficiência energética e geração distribuída fotovoltaica”, comemora Cavalcante.

O professor lembra que além da contribuição na formação profissional e na pesquisa, a miniusina vai permitir uma economia de energia fundamental para a universidade, já que as despesas com energia elétrica são um dos principais itens de custeio no Campus A.C. Simões. São 360 módulos fotovoltaicos e quatro inversores de um sistema com 125 kWp (quilowatt-pico) de potência, além de um estacionamento solar com três vagas preferenciais, 27 módulos fotovoltaicos e dois inversores com 9 kWp de potência, totalizando 134 kWp de potência instalada na miniusina.

A economia foi algo que foi aplaudido pelo reitor Josealdo Tonholo, que ponderou em sua fala todas as dificuldades enfrentadas pela universidade, principalmente nos últimos quatro anos, quando, na contramão dos exemplos de todos os países desenvolvidos, o ensino superior sofreu cortes orçamentários e uma desconstrução da imagem das instituições. “Mas estamos de volta, somos de novo prioridade nas políticas governamentais de desenvolvimento tecnológico, social e de inovação. Nossa equipe colabora inclusive com as prefeituras e o governo de Alagoas para apresentação de projetos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Temos grupos que fazem a diferença em várias áreas”, ressaltou o reitor.

Reitor da Ufal Josealdo Tonholo (Foto: Edilson Omena)

OBJETO DE PESQUISAS

De acordo com o coordenador do projeto, grupos de pesquisa da universidade produziram conhecimentos e desenvolveram equipamentos que colaboraram na implantação da usina solar. No Instituto de Computação, o professor Davi Bibiano reforçou à época o envolvimento na pesquisa. “Trabalhamos desde a concepção da proposta de P&DI até a execução. Contribuímos com a especificação de equipamentos e instrumentação e também no campo da pesquisa”, relatou Bibiano.

No aspecto da pesquisa, Davi Bibiano colaborou na produção acadêmica sobre Previsão de Geração Fotovoltaica a partir de Dados Meteorológicos utilizando Rede LSTM (Rede de Memória de Curto e Longo Prazo). “O problema com a energia solar é que, ao contrário da fonte hidráulica, que já tem um reservatório, na geração de energia solar e na eólica acontecem interrupções por causa do sol e do vento que não são constantes. Essa característica, com a diminuição da geração de energia de placas solares, já provocou alguns apagões em países com alto uso da energia solar”, explicou o pesquisador.

O trabalho desenvolvido pelo grupo de pesquisa coordenado por ele foi elaborar um sistema que consegue prever a geração de energia a partir das condições meteorológicas, com precisão de quase 100%. “Construímos uma Estação Solarimétrica no teto da usina, que capta os raios solares e os dados de geração dos inversores, com a medição da energia gerada nos módulos. Desenvolvemos o hardware e o software no IC, que são equipamentos para mensurar parâmetros solares, como, por exemplo, radiação solar global, direta e difusa, entre outras. Então, com antecipação de cinco minutos, é gerado um alerta para que seja possível recompor o sistema elétrico antes de um blecaute”, detalhou Bibiano.

Já André Aquino, sócio fundador e consultor da empresa de pesquisa Ny Research, Coordenador do Laboratório de Computação Científica e Análise Numérica (Laccan), que atua em projetos de eficiência energética, também colaborou para a instalação da miniusina, desenvolvendo pesquisa. “Desenvolvemos algoritmos de desagregação de energia através de Monitoramento Não-Intrusivo de Carga, usando análise de séries temporais, através da busca de padrões e de técnicas de teoria da informação, fusão de dados e dados detalhados do consumo de dispositivos obtidos de diferentes sensores de monitoramento”.

Por intermédio desses dados e monitoramento de medidores são realizados estudos de assinaturas individuais de dispositivos elétricos e de descoberta de padrões e anomalias no consumo de carga. “Também pesquisamos sobre o potencial de ferramentas de análise de sinais e teoria da informação na desagregação de energia; otimização das técnicas de recuperação de informação e identificação de padrões em medição de alimentadores e de Unidades Consumidoras de Média Tensão; e aplicações gerais para prédios inteligentes”, finalizou André Aquino.

A Miniusina da Ufal tem outros projetos de pesquisa e extensão em andamento e sendo estudados. Veja a entrevista no vídeo com o responsável pela usina solar.


PARCERIAS

A miniusina foi financiada pela Equatorial Energia Alagoas dentro do escopo da Chamada de Projeto Prioritário de Eficiência Energética e Estratégica de P&DI nº 1/2016 (Eficiência Energética e Minigeração em Instituições Públicas de Educação Superior) da Aneel, sendo aprovado sem restrições e com a terceira melhor nota (04) entre as 11 propostas aprovadas, de um universo de 27 propostas submetidas no país.

O projeto da edificação de suporte da miniusina conta com um relatório de simulação de eficiência energética e foi concebido com a intenção de obter nível A nos três aspectos analisados no processo de etiquetagem (envoltória, iluminação e condicionamento de ar). “Assim, pretende-se realizar a contratação de um Organismo de Inspeção Acreditado (OIA) pelo Inmetro, visando à obtenção da Etiqueta PBE Edifica, sendo esta edificação a primeira etiquetada na instituição, e muito provavelmente no estado”, informou Márcio.

Vale destacar que esta edificação é candidata ao Selo Procel Edificações, uma vez que o projeto foi concebido para obter nível de classificação A nos três aspectos de eficiência energética que são analisados. “O Selo Procel Edificações tem por objetivo principal identificar as edificações que apresentam as melhores classificações de eficiência energética, tanto na etapa de projeto, válido até a finalização da obra, quanto na etapa da edificação construída”, complementou o pesquisador.

Humberto Soares, presidente da Equatorial Alagoas, ressaltou que quando a empresa assumiu a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no estado, este foi um dos primeiros projetos que ele teve conhecimento e desde o início percebeu a relevância e o potencial de impacto da proposta. “Não à toa, este projeto foi aprovado sem restrições, com um investimento de cerca de R$ 2 milhões. As atividades desenvolvidas vão beneficiar todo o estado. Alagoas precisa de energia limpa e de qualidade para fomentar um crescimento que se apresenta acima da média do país”, comemora o presidente da Equatorial Energia Alagoas.

A geração de energia solar no sistema elétrico contribui para a diversificação da matriz energética, reduzindo a dependência de fontes não renováveis, como os combustíveis fósseis. Além disso, a energia solar é uma fonte limpa, ou seja, não emite gases de efeito estufa nem poluentes atmosféricos significativos durante a sua produção. Isso contribui para a redução das emissões de gases causadores do aquecimento global e para a preservação do meio ambiente.