Petrucia Camelo

FESTAS JUNINAS

Petrucia Camelo 21 de junho de 2024

Mês de junho, mês de São João, festeiro e molhado, mas, sobretudo, quente nas apresentações ricas e vivas das tradições culturais: comidas típicas, canções, ritmos, danças e devoções religiosas fazem a movimentação alegre e colorida dos ambientes caseiros, das Igrejas e dos arraiais.

No Brasil, essa tradição folclórica foi trazida pelos portugueses, composta de superstições, crendices e adivinhações. As labaredas vermelhas que chispam das fogueiras contrastam com a cor do milho verde das espigas de cabelos dourados, apresentado disposto sobre a mesa entre as mais variadas formas de delícias da arte culinária junina.

Ambientes iluminados decorados por balões e bandeirolas de papel, às vezes de plásticos multicoloridos, pendurados entrançados no alto das salas, das palhoças, dos espaços grandiosos em tamanho e forma a abrigarem o ritmo nordestino do forró, dão um toque especial à festa.

Têm-se os festejos juninos a partir de 19 de março, dia dedicado ao santo São José, prosseguindo-se ao mês de junho, invocando o sincretismo religioso cristão ao se cultuar a proteção dos demais santos: Santo Antônio, São João e São Pedro; este último com a chave que lhe é peculiar, pois segundo reza a tradição ele é o chaveiro do céu, e também fecha as datas comemorativas do mês junino.

Não é debalde a fumaça das fogueiras, para ver o rodopiar do arrasta-pé, da onda das quadrilhas, hoje, estilizadas, embora ainda se encontrem noivos vestidos de trajes matutos, das adivinhações em volta das fogueiras. Trata-se de uma festa coletiva, da qual as famílias participam com muita alegria.

Os recursos das apresentações das tradições juninas são em grande parte voltadas para o comércio: da venda de fogos de artifício, de confecção e venda de roupas coloridas a caráter, de concursos de quadrilhas promovidos por órgãos públicos municipais, de shows com apresentações musicais dos cantores de músicas nordestinas. Mas tem-se ainda uma coisa que funciona com toda a criatividade, como se ainda se estivesse ao pé da fogueira na porta do sertanejo ou da zona da mata, nos alpendres das usinas, das casas grandes; é a criatividade poética; em especial, a poesia popular.

E entre inúmeras criações musicais, cantigas e toadas que caracterizam a cultura regional, têm-se os versos do poeta pernambucano Melquiades Montenegro Filho, inspirados na história bíblica, formalizando início da tradição junina. Diz o poema intitulado “O colar de luz”: Um colar de luz na Judeia/ correu por sobre os montes/indo até a Galileia/anunciando a Maria/que aquela noite seria/toda de fogos, de festa e de alegria. E é claro que, entre inúmeros outros, nunca se pode deixar de homenagear o Rei do Baião Luiz Gonzaga, com suas canções inesquecíveis: “Olha pro céu, meu amor/vê como ele está lindo” ...

Noite de São João, São João do Carneirinho, quando a chuva fina e fria desce sobre a lenha da fogueira, mas não apaga o fogo vermelho dos tições em brasa, como se eles estivessem esperando por espigas de milho para assarem, que, em dias de sol, de longe, no plantio, faz suas imagens os encantarem, ao se ouvir o sopro do vento a soprar-lhes os cabelos multicores, ao vê-las antes, espigas verdes de cabelos loiros, dourados e depois, madurarem no reflexo do sol, incitando o lavrador a colhê-las: quebrando-as no pé e limpando-as, livrando-as dos sedosos cabelos antes loiros que depois se tingem de marrom escuro.

Na noite de São João, a fogueira a torna iluminada, abre o relicário das emoções para encontros de futuras lembranças, a gente dança, come e bebe, a convidar todos para ir lá fora pular fogueira, tornando-se compadres e comadres; a fazerem adivinhações, para saberem se, no próximo ano, casam quando as festas juninas retornarão; e há sempre uma adivinhação a recriar: é somente jogar uma moeda na fogueira e esperar.